17/07/2012

galeria entrevista Rita Correia

Terça-feira é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Rita Correia.



A Rita nasceu uma desenhadora e cedo percebeu que era no meio dos desenhos que se sentia como peixe na água... e também nas cantorias... mas isso daria outro filme.
Licenciada em Artes Plásticas-Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e com cinco anos de experiência numa empresa multimédia, a vertente da ilustração surgiu
naturalmente.
Desde 1999 tem ilustrado para vários livros, artigos editoriais e material multimédia em suportes físicos e virtuais.
Atualmente vive em Cascais, tem 2 filhos e desde que se tornou mãe, que a vontade de traballhar para a infância aumentou exponencialmente e a partir do momento em que
começou a ser trabalhadora independente com atelier na sua própria casa, que se tem deparado com o crescente desafio de organizar o melhor possível as 24h de cada dia.
Em 2011, quase ao mesmo tempo do nascimento do seu segundo filho, surge o projeto que talvez venha a ser o maior e mais importante na sua vida profissional. O primeiro livro,
escrito e ilustrado por si. E como se não bastasse a novidade da escrita, decide também editá-lo por conta própria, numa arriscada e sempre imprevisível edição de autor.
Um Livro para Ti foi o título escolhido para um livro dedicado às crianças e inspirado no conceito do bookcrossing, que pretende deixar a semente da partilha no coração de
quem o lê... mas que, segundo os testemunhos de quem já o leu, quase ninguém o consegue libertar, o que também foi previsto pela Rita e por isso nos deixa alternativas na contra-capa.
Um livro, que vai para além do conceito, e está também carregado de surpresas e jogos para serem trabalhados entre pais e filhos. Aqui fica o exemplo de uma dessas
brincadeiras:



Sendo uma edição de autor, este livro especial é vendido diretamente pela autora no blogue dedicado ao mesmo, com todas as informações  atualizadas, e que todos podem espreitar aqui: umlivroparati.blogspot.com

Se quiserem conhecer mais trabalhos e ilustrações da Rita acedam a estes links que estão por ordem de atualizações mais frequentes:


"Hoje fala-se muito em “crise”, eu penso mais numa “crise de valores”. Valores que reparei, foram sendo esquecidos ao longo destes últimos 20 anos, pelo facilitismo na aquisição de tudo e de muitas coisas... demasiadas coisas!
Consigo ver hoje muitas crianças, perdidas no meio de autênticas avalanches de brinquedos nos seus quartos. Uma geração a quem tem sido dado pouco espaço para a imaginação, para a invenção ou para a partilha, onde o verbo “ter” adquire muita, demasiada importância a meu ver."


Para quem não sabe, o que é o bookcrossing?
R: O bookcrossing é, tal como a palavra em inglês traduz, "passagem de livros". Surgiu pela primeira vez em 2001, e é um conceito que sugere a passagem e a partilha dos livros que já lemos e, em vez de os guardar em casa, libertá-los em sítios públicos onde possam ser encontrados, lidos e voltarem a ser partilhados da mesma forma, como se o mundo se pudesse transformar numa biblioteca gigante e à disposição de todos.


Como mãe, tem conseguido combater o verbo "ter"?
R: Felizmente sim. Enquanto criança o verbo "Ter" nunca foi sequer uma questão, pois só tínhamos o que era possível ter, e esta mensagem, os meus pais souberam passar extraordinariamente bem. Hoje, como mãe, e com a oferta quase avassaladora em relação a tudo, vejo alguma dificuldade, mas os principais valores e princípios que me foram tão bem ensinados, têm definitivamente marcado a diferença na educação que dou aos meus filhos.

Optou por uma edição de autor. Contactou muitas editoras antes de avançar?
R: Dada a natureza do meu projeto, o meu primeiro contacto foi com uma grande amiga, que estando a trabalhar no mundo editorial há vários anos, e em quem confio totalmente, me colocou na mesa todas as possibilidades para um livro como o meu, inclusivamente a hipótese de uma edição de autor. E confesso que foi a possibilidade que mais me agradou.
No entanto, estabeleci alguns contactos, onde uma editora cordialmente me respondeu que, sendo um livro com o objetivo de ser partilhado não conseguiam prever se poderia gerar o lucro esperado. Uma outra editora gostou muito do projeto e mostrou-se muito interessada em publicá-lo, mas por estarem a atravessar um período complicado não tinham previsões de quando poderiam avançar.
Talvez o caminho até à edição de autor estivesse naturalmente destinado, pois tudo em mim sempre se inclinou nessa direção.

Quais foram as maiores dificuldades que sentiu ao publicar este livro de forma autónoma?
R: Sinceramente, foi a decisão final de ter de financiá-lo com o dinheiro da minha poupança familiar, e pelo facto de ele ter surgido exatamente numa altura em que era mamã pela segunda vez, e tinha ao meu encargo um bebé com cerca de 5 meses. De resto, com a ajuda moral da família e o apoio de alguns amigos fora de série (aos quais fiz questão de agradecer no fim do livro), senti toda a força que precisava para avançar com este projeto. Definitivamente a parte mais complicada era mesmo a financeira, pois as ilustrações e o design do livro, seria o mais simples de concretizar de todo o processo. E a minha mãe esteve sempre por perto para que o recém-chegado neto não ficasse privado de nada pela nova e louca aventura da mamã.


E como tem corrido este projeto?
R: Desde Maio, mês em que este livro viu a luz do dia pela primeira vez (muitos já me dizem ser o meu terceiro filho), que o feedback tem sido extraordinário. E o mais interessante foi saber que algumas pessoas o acham mais valioso, precisamente por não ter qualquer chancela editorial. Este livro é realmente mais que um livro, é um projeto que não se esgota apenas na leitura. O conceito sobre partilha, todos os pormenores que incluí no livro, nomeadamente os que se referem a Portugal, e os pequenos jogos espalhados por todas as páginas, que as crianças adoram, permitem-me explorar várias abordagens nas apresentações e também perceber que numa pequena hora é-me impossível conseguir mostrar todos os minuciosos pormenores que tanto gosto me deram explorar, idealizar e claro... ilustrar.

Já tinha feito ilustrações para livros infantis mas neste livro decidiu avançar também como autora do texto. É uma experiência a repetir?
R: A verdade é que este livro surgiu, quase por acaso! Nunca tinha tido grandes intenções de escrever um livro, e na realidade nunca me achei com grande jeito para inventar histórias para livros de miúdos. Mas esta ideia em particular, surgiu-me como um relâmpago perto do final do ano passado, em que tive de correr para o meu caderno para escrever todas as ideias que se atropelavam na minha cabeça. E foi algo que pressenti que tinha de avançar, fosse de que maneira fosse.
Neste momento não sei se será uma experiência a repetir, porque este livro é muito específico. De qualquer forma, como já referi em cima, tem tantos pormenores que têm tanto a ver comigo, que é possível que abra muitas portas para outras ideias semelhantes, quem sabe. Mas repetir uma edição de autor, confesso ser um pouco assustador dado todo o investimento e esforço que é exigido. Estes tipo de livros não têm a distribuição típica, e temos de ser nós a fazer tudo o que é necessário para o divulgar. É muito entusiasmante, sem dúvida, mas não é tarefa fácil.



Onde podemos ouvir a Rita a cantar?
R: Neste momento quem mais me ouve é o gato, mas também podem ouvir-me sempre que me pedirem para cantar. Desde Tom Jobim a Gershwin, ou até mesmo Pearl Jam, Joss Stone e Alanis Morissette... sem esquecer a minha querida Sara Tavares, entre muito mais repertório são apenas alguns exemplos que me fazem puxar pela voz. Mas hoje, o mais fácil será ouvirem as músicas do “Urso da Casa Azul” quando estou a entreter o meu miúdo de (agora) 1 ano para o fazer comer a sopa.
A realidade é que fui vocalista de uma banda de covers pop-rock uns anos antes de engravidar pela primeira vez, e por razões "técnicas" a banda fez uma pausa... que tem durado até hoje. Mas cantar faz tão parte de mim que sinto que precisava de uma outra vida para fazer desta grande paixão algo mais sério. Seja como for, o meu grande amigo e companheiro que por acaso até é o meu marido, diz que o encantei com desenhos, música e bolos... Nada mau para quem não tinha jeitinho nenhum para namoricos! (muitos risos)

Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Cada vez sou obrigada a organizar-me mais e melhor. Não sou, nem me posso dar ao luxo de ser artista que trabalha só quando está inspirada. Sendo mãe, trabalhadora independente, dona de casa e ainda gestora das finanças caseiras, todos os dias aprendo o quanto a organização é essencial para conseguir fazer tudo o que é preciso. Costumo fazer muitas listas de "to dos" de véspera, que vou riscando à medida que vou terminando cada tarefa. Com o tempo a minha experiente mãe diz que tudo se torna mais automático e que as listas deixam de ser necessárias, mas até agora, vão-me dando bastante jeito. Lá em casa, o único que trabalha por instinto é o gato que come, dorme e recebe mimos todos os dias. Vidas boas!


Tem projetos para um futuro próximo?
R: Num futuro próximo, quero continuar a trabalhar no que mais gosto, e se surgirem projetos de repente parecidos com este “Um Livro para Ti” claro que farei de tudo para os concretizar. Os nossos sonhos não devem ser apenas sonhados, devem ser perseguidos e se acreditarmos profundamente que eles podem tornar o mundo melhor... então aí, devemos ser incansáveis.

Para além das suas atividades profissionais, o que mais gosta de fazer?
R: Cozinhar... e fazer os meus próprios presentes de Natal. Gosto muito de estar na cozinha e ter todos os ingredientes à minha disposição e experimentar novas formas de fazer os pratos mais típicos. Mas definitivamente, as sobremesas e principalmente a parte da decoração são a minha delícia. E só tenho pena de muitas vezes não conseguir ter mais tempo para me perder entre o meu famoso Bacalhau com Broa ou as minhas bolachinhas. Todos os amigos e familiares já conhecem bem estas bolachinhas nos Natais... e também elas estão lá no meu livro num pratinho e bem escondidas. Também tenho saudades de viajar para fora de Portugal, viagens que já não fazemos desde que a nossa primeira filha nasceu há 5 anos.


E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: De arrumar a cozinha... depois de a deixar do avesso!
E compras!! Fico perdida com tanta oferta! E como sou preocupada com questões ecológicas e produtos que não tenham componentes artificiais e depois ainda faço um esforço para comprar o que é nosso... aliado com a constante preocupação de também não poder despender de um orçamento, digamos, “à vontade”... para mim, fazer compras é um desafio cansativo e se pudesse delegava esta tarefa, sem pestanejar.

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: Posso sugerir a minha mãe... e o meu pai?
Posso falar de todas as pessoas que trabalham como voluntárias em associações ou instituições, e principalmente daqueles que cuidam das crianças?
E de todos os que acolhem animais abandonados, maltratados e têm corações de tamanho infinito?
Posso sugerir a jornalista Mafalda Ribeiro?
Posso falar de pessoas como José Pedro Cobra nos Hospitais?
Posso referir o Sérgio Godinho e a sua música?...
Quantas linhas ainda tenho?


... um LIVRO onde encontrarás
um gato malandro e um cão rafeiro,
muitas pombas e um dinossauro,
abraços, presentes e migalhas de pão
meninos e meninas como TU,
... vestidos de renda, aviões e dragões,
encontrarás PORTUGAL e Pessoa,
descobrirás TESOUROS escondidos
e uma MENSAGEM muito importante
sobre... PARTILHA!

1 comentário:

  1. Adorei ler esta entrevista com a Rita Correia. Nela descobri talentos para além dos que já tinha testemunhado.
    Já conhecia o seu talento como ilustradora, já me dera conta de uma "forma de estar" inusual em jovens de igual idade. O gosto pelo desafio, a vontade de "crescer", aliado a uma forte determinação e a uma doçura de estar bem invulgares.
    É uma felicidade conhecer alguém assim.
    Parabéns, Rita.
    Um grande abraço da Antonieta Ribeiro

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