17/04/2012

galeria entrevista Joana Ribeiro

Terça-feira é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Joana Ribeiro.


A Joana nasceu em 1987 e é de Matosinhos.
Desde pequena que tem queda para as artes. Os pais sempre estimularam esse lado criativo. Licenciou-se em Design de Joalharia, na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos e fez ERASMUS na Hodgeschool of Antwerp, estabelecimento de ensino belga. Também completou o mestrado em Design de Produto, de forma a poder compreender o ato criativo por dentro das empresas.
A Joana é designer de joalharia. Faz anéis, brincos, colares, pregadeiras e bandoletes. Expõe as suas peças de Autor em feiras, lojas e outros eventos.
Tem como inspiração as formas e texturas da natureza e como ambição tornar delicados elementos naturais em jóias originais.
Em 2009, venceu o Concurso Jovens Criadores na categoria de Joalharia. Em 2010, Serralves reconheceu igualmente a sua originalidade e deu-lhe destaque na Mostra POPs (Produtos Originais Portugueses). Em 2011, recebeu o 3º prémio na categoria Inovação, no Concurso VIP Jóias 2010. Em Maio de 2012 será lançado o livro 500 Rings da Lark Books que inclui o anel Ruber Folium.
Atualmente patrocina a soprano Marina Pacheco, facultando jóias para os seus concertos.

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Hesitou entre design de moda e joalharia. Hoje, acha que a moda teria sido mais fácil?
R: É verdade! Quando tinha 16 anos sonhava com o mundo da moda. Fiz um curso de Verão no Citex que me mostrou que não era bem o que eu ambicionava, por isso, acabei por optar pelo pano B – a joalharia.
Apesar de gostar do que faço, sinto que escolhi o caminho mais complicado. Em Portugal há mais oferta de emprego para quem se licencia em Moda. Podem não ser trabalhos em grandes marcas, mas existem. Na minha área vejo os que se licenciam, tal como eu, a lutar sozinhos sem apoios. Os empregos são raros e as empresas não se mostram interessadas. No meu ponto de vista, os empresários ainda não perceberam que as ideias têm de ser pagas e que não basta folhear revistas.
Os consumidores vão-se sensibilizando aos poucos, mas ainda optam por grandes marcas estrangeiras em vez de apoiar jovens designers nacionais.
Por um lado este “caminho complicado” faz com que sinta vontade em desbravar caminho e mostrar que o design de joalharia nacional pode competir com o espanhol ou o italiano.

Fez ERASMUS na Hodge, na Bélgica. Foi enriquecedor?
R: Voltava a fazer sem pensar duas vezes! Foi na Bélgica que cresci tanto a nível do design como de personalidade. Viver numa cidade onde não conhecemos nada nem ninguém, ter aulas numa língua que não é a nossa, reaprender processos e pensamentos de trabalho... São desafios complicados mas ao mesmo tempo enriquecedores. O ensino belga é muito diferente do nosso. As artes são muito mais respeitadas. Ser-se designer é motivo de orgulho e não de estranheza.
Foi em Antuérpia que tive a inspiração para a coleção que hoje me representa como criadora. Só tenho a agradecer o inverno inspirador de Antuérpia!
Aconselho a todos, independentemente da área, a experimentarem fazer Erasmus.

E o Mestrado em Design de Produto?
R: Quando terminei a minha licenciatura de 4 anos fiquei sem saber o que fazer. Enviei dezenas de currículos para empresas no norte do país, mas não obtive respostas. Tive o incentivo dos meus pais para continuar a fazer crescer o meu currículo e assim ingressei no Mestrado.
Apesar de me ter dado várias dores de cabeça e ter sido um pouco desgastante, acabou por ser enriquecedor porque tive a oportunidade de estagiar numa empresa de ourivesaria ligada à filigrana e de aprender como o mundo empresarial realmente funciona. No início sofri um choque de culturas. Fui estagiar para uma empresa familiar, pequena, situada numa aldeia em Póvoa de Lanhoso, onde nunca nenhum designer tinha trabalhado.
Foi positivo colocar em prática o que aprendi na Faculdade e perceber que nem sempre o que idealizamos é o que realmente acontece. Como realizamos projetos na escola, não é como uma empresa trabalha, mas foi interessante levar para o seio da empresa métodos novos, materiais e processos criativos.
Com esta experiência acabei por crescer também como designer empresária.

Diz que os ourives ainda fazem muita resistência aos designers de jóias. Como assim?
R: Há muita resistência por parte dos ourives a aceitarem novos modelos.
Não compreendem que existe um processo criativo por de trás de cada peça e que não basta fazer experiencias na banca de trabalho, é necessário investigar o que já foi feito, o que o mercado vende, para se conseguir uma coleção estruturada.
Existe também o problema da lei do contraste e a entrada de jovens designers no mercado. Esta dificuldade deve-se ao facto de alguns ourives se sentirem, no meu entender, ameaçados com os novos projetos de joalharia. No entanto deveriam compreender que o setor precisa de rejuvenescer e que é muito mais produtivo novos e séniores juntarem ideias. Por parte das ourivesarias denoto algum receio em arriscar em novas linguagens.
No entanto acho que as mentalidades estão a evoluir.

Vencer o concurso de jovens criadores, em 2009, o que é que lhe trouxe?
R: O Concurso foi o início do meu percurso como designer. Quando concorri nunca pensei ganhar. Participei por sugestão de uma professora enquanto ainda desenvolvia o projeto na licenciatura. Fiquei radiante e foi aí que me apercebi do potencial que a minha coleção poderia vir a ter a nível comercial.
Registei a minha marca, aluguei a minha banca de trabalho, participei em eventos, atualmente patrocino a soprano Marina Pacheco, vencedora de vários prémios e dona de uma poderosa voz.…
Felizmente esta foi a primeira de muitas alegrias!

Quando idealiza uma peça, já a idealiza num determinado material?
R: Todas as peças que realizo são em prata 925. Idealizo sempre peças em prata, no entanto gosto de ser criativa nos acabamentos e nas conjugações de fios e detalhes. Trabalho com tintas metálicas, esmaltes, couro, cetim, etc... Gosto sempre de dar um toque mais colorido ou irreverente a cada jóia.


Há algum material que gostaria de ter trabalhado mas ainda não teve oportunidade?
R: Adorava esculpir pedra. Nunca tive a oportunidade mas espero um dia conseguir criar uma coleção que nasça de pedra em bruto trabalhada por mim. À medida que vou percorrendo o meu caminho vou encontrando novos desafios e nunca se sabe que material encontro para trabalhar amanhã!

Segue tendências ou faz as suas próprias tendências?
R: Tento criar sempre a minha tendência, mas a verdade é que por vezes, para um artigo ter mais vendas, acabo por adaptá-lo às tendências da estação.
Há pessoas que compram jóias porque se apaixonam por elas e há outras que apenas procuram artigos que estejam de acordo com as tendências ditadas pelas revistas de moda. Por esse motivo tento sempre ter peças que tenham cores das utilizadas em cada estação ou outros detalhes.



Usa peças de outros autores?
R: Como se diz na gíria "Em casa de ferreiro, espeto de pau"! Quando era adolescente usava imensos acessórios, não saia de casa sem brincos compridos ou anéis coloridos. Agora poucos ou nenhuns acessórios uso. Apenas ando com relógio e por vezes uso uma peça ou outra minha. Mas tenho algumas peças de outros autores que fui fazendo trocas e guardando de recordação!

Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Depende dos meses e sobretudo da minha disposição! Sou muito temperamental com o meu trabalho. Quando tenho que responder a encomendas cumpro horários e datas, mas quando é para criar, gosto de ter tempo, de me inspirar, de estar no meu mundo! Não gosto de pressões quando estou a criar. Talvez por isso nunca tenha uma coleção definida. Vou sempre criando mais peças que se encaixam na coleção. Nunca dou nada por concluído e é muito difícil estar satisfeita.


Tem projetos para um futuro próximo?
R: Sim, alguns. De momento estou a coordenadar um grupo de jovens designers de joalharia. A ideia consiste em divulgar este grupo em feiras nacionais de joalharia e design, mas ainda não posso revelar muito. Mas se conseguir os apoios pelos quais estou a lutar, posso garantir que é um projeto que vai dar que falar!

Para além de se dedicar à joalharia, o que mais gosta de fazer?
R: Não sou uma pessoa a quem possam perguntar qual é O prato favorito, A banda favorita... Sou apaixonada por muita coisa. Talvez devido ao meu "amor antigo" pela moda, gosto muito de sessões fotográficas, de as organizar, pesquisar, escolher make up, imaginar resultados...
Tenho, também, muitas ideias para eventos e estou a tentar organizar alguns, por isso posso dizer que tenho uma costela de "planeadora de eventos". É algo que teria todo o gosto em me dedicar mais seriamente um dia.


E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: Levantar-me no mesmo dia em que me deito! É verdade, não sou uma pessoa madrugadora. No meu dia-a-dia não gosto nada de acordar cedo. Tenho, claro, de o fazer para conseguir trabalhar, mas sou uma pessoa que vai trabalhando pela noite dentro e por vezes acabo por não dormir tanto quanto gostaria!
Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: Não tenho ninguém em particular pela qual me sinta inspirada. Gosto de me inspirar nas mulheres portuguesas e na garra que têm. Busco inspiração nas criações arrojadas da Fátima Lopes, na poderosa voz da soprano Marina Pacheco, na elegância da apresentadora Raquel Prates, na forte juventude da Sara Sampaio…entre outras. Busco sempre mulheres com estilo e personalidade e sonho como ficariam tão bem com as minhas jóias!


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